Um assunto que sempre me comove é a perda.
Parece que o ser humano não entendeu a mensagem do nascer e morrer.
Do chegar e ir embora tão bem explicado pelo Milton Nascimento ao se
referir em uma de suas mais belas letras quando
diz: “ ...a hora da chegada já é hora da partida.”
E é assim que segue a tragedia de todos nos que acreditamos no eterno
sendo que o eterno dura somente o tempo do aqui.
Gosto de filosofar sempre trazendo um assunto que se repete mil vezes
em nosso dia a dia. Porque a perda é nossa companheira de caminhada enquanto
seres viventes do nosso lindo e encantado planeta terra.
E quanto mais apaixonados e envolvidos mais e mais decepcionados
ficamos quando de repente o amor se vai.
E o pior de tudo que é sempre unilateral e sempre um tem que lutar
bravamente para não sucumbir ao desespero que a perda ocasiona.
É o envolvimento do coração e da alma que insiste em nos manter felizes
e certos da eternidade enquanto deletamos toda e qualquer informação sobre a
casualidade de tudo.
Mas a verdade é que o foco esta na vida, nas realizações e no prazer.
E que prazer é estar apaixonado!
Adoro sentir-me apaixonada por alguma coisa, por alguém. Nem entendo a vida sem paixão.
E o que fazer, se um dia simplesmente a paixão se apaga e um vazio imenso
se apossa de todo nosso ser?
É a dor da perda.
Não nos preparamos para o obvio.
Mas como viver determinando um fim? Impossível pensar no fim sendo que
o começo ilumina tudo sem nos dar qualquer explicação ao ir embora.
Mas o sonho acaba mesmo. Num momento é hora de acordar. E de partir ou
deixar partir.
Minha mãe sempre me dizia uma frase quando me via muito envolvida ou
muito apaixonada.
E ela que já conhecia a filha enamorada, entusiasmada, com os pés fora
do chão dizia:- “muito riso é sinal de choro. Cuidado.”
Essa frase me tirava do faz de conta que o ceu era o limite. Mas também
era o jeito dela me avisar do fim.
E quantas vezes eu voltei a seus braços sempre abertos para chorar e
chorar.
Chegar e partir.
E recomeçar, e sempre recomeçar.
Nesse percurso inexorável rumo ao desconhecido dos encontros e
desencontros eu vou aprendendo que a vida é um dar e receber continuo.
Fica sem sentido quando você descobre que dar sem receber é um lindo
discurso, mas provavelmente o mais infiel dos mandamentos.
Dar e receber na mesma medida. Essa é a lei do apaixonamento.
Doar-se sem a nutrição do receber é desumano e injusto porque a energia
não pode ser exaurida dessa forma.
É o principio de tudo. Precisamos entender que tudo tem um fim quando
um se apossa do receber.
E quando se fica vazio no esforço de dar é hora de descer na próxima
estação. E tomar outro trem.
E quem sabe, na próxima viagem, olhando para a janela da vida,
enxugando as lagrimas da saudade, tentando entender a perda, encontremos a
solução para esse enigma: “mesmo com todas as perdas , nossos corações sempre
voltam a ter esperanças, ao encontrarmos um novo olhar, um sorriso.”
·
E tudo se
renova. O coração acalora, os olhos brilham e la vamos nos, lindos mortais,
novamente esquecidos da perda e apaixonados nem pensamos que a chegada já é
hora da partida.
·
As flores
estão coloridas, as estradas repletas de sensações, a lua sempre chega
iluminando e clareando a escuridão e as estrelas maravilhosas nos mostram o
caminho da via láctea que nos atrai para o desconhecido.
E se algumas delas se apagam, outras acendem e assim nunca se viu tanto
brilho no céu e eu posso afirmar, que na minha incomparável sensatez de mulher,
que caminha embriagada de amor, a lua minha amiga me diz que as perdas são
inevitáveis, mas indiferente a tudo ela chega na noite escura e o sol seu
amante, mesmo sabendo que jamais a tocara com seus raios apaixonados, não
desiste e vai acalorando todos aqueles que necessitam de calor para viver e
nessa troca infinita a perda recebe o nome de esperança.
E esperança não morre.
Mariyah 23.09.2011