terça-feira, 17 de abril de 2012

A cura do coração


O relacionamento amoroso é um ir e vir de intermináveis desejos e supremos beijos, onde o calor percorre nossas entranhas fazendo com que reconheçamos todas as batidas dos corações um do outro e com elas formamos um circulo de presença e entusiasmo.

Mas que fazer quando o” para sempre” se transforma em desilusão e se torna tão vulnerável que nem reconhecemos mais os toques sutis que nos encantaram um dia.

Ainda não descobri mesmo que navegasse pelos mares tempestuosos de ondas bravias ou caminhasse pelas praias de areias brancas, ou pelos desertos e seus oasis de tâmaras, como não deixar-me envolver pelo final sem sentido de uma relação amorosa, onde se amou muito, se cuidou muito, mas se deixou levar pela cadencia do finito e imensurável abismo que separa os incautos amantes.

Ninguem é dono da verdade e muito menos do outro.

O romance é como um trem, que parte de uma estação com a gente multicolorindo tudo com o entusiasmo e coração em chamas, para uma viagem longa e ao voltar, ah...ao voltar descobre-se que perdeu a sintonia com o outro coração e por mais que se lute para religar os fios dourados da paixão, nada mais importa porque nada mais se conecta.

E a viagem fica ridícula e o trem maravilhoso segue em seu zig zag levando outros corações e outras almas afins, que no final cairão na mesma armadilha do tempo.

Quem sabe o tempo é o responsável pela desilusão?

Mas se o tempo é atemporal para aqueles que acreditam no amor, como pode ser o destruidor das ilusões?

Em algum lugar do passado, a vida faz um remanso onde os enamorados descobrem a vida a dois.
E em algum lugar do futuro acontece o mesmo movimento, mas o véu cai e mostra o rio caudaloso e desencontrados não entendem mais o poder do brilho no olhar que ofuscado  perdeu o sentido.
E um dos dois chora a partida.

Juntar os pedaços é assustador porque já não dançam a mesma musica. O som é estéril como é estéril todo movimento que não venha mais do coração.

O coração é a morada do amor. É vida e criação.

 E se o amor se foi o que resta fazer é descer as escadinhas do trem com o olhar choroso de quem perdeu algo muito valioso e com a mala nas mãos e cabeça erguida, seguir pelo caminho que se abre em espaço mínimo entre a estação e linha do tempo.

Penso que entendi agora porque as estações de trem seguem por caminhos estreitos.
É para que possamos encontrar novas ilusões nesse ir e vir de chegada e partida, porque pelos caminhos estreitos os olhos se encontram, os perfumes são sentidos e quem sabe um outro alguém nos espera ávido de ternura e paixão para vivermos novamente um grande amor.

É a vida que se renova e se refaz dentro de um processo de perdas e ganhos, acertos e desacertos, glorias e fracassos, mas eu posso garantir que o brilho do olhar de quem muito amou jamais se perdera na escuridão.

O coração que uma vez se incendiou de paixão, ficara marcado pelos momentos felizes, onde o tempo não conta, onde o dia amanhece e o entardecer sem hora de anoitecer espera as estrelas ,sem pressa e a chegada se mistura na doce esperança do amor eterno.

E pelas passagens estreitas desse encontro e desencontro eu vejo um lindo olhar que se debruça sobre o meu e me pergunta para onde vou.

O céu se ilumina e as lagrimas secam. Os batimentos se aceleram e o corpo esquenta quando eu desavisada descubro que nada se perdeu.

E assim a vida segue maravilhosa e as estrelas novamente se encantam porque o brilho é real e permanente e nada que se diga é o bastante para fazer desistir um coração que encontra outro coração.
É o milagre do amor.

Ainda que caminhemos pelos vales das sombras, ainda assim a vida se sobrepõe á dor e num milagre supremo os corações descobrem que o ser afim é aquele que vibra na mesma sintonia e na mesma historia.
E na ternura de mãos que se entrelaçam, eu posso sentir na tarde que cai, o sabor de estar apaixonada.

Um suave perfume exala ondas de prazer e a vida ressurge linda.

É a cura do coração.